segunda-feira, 1 de março de 2010

Entrevista ao declamador, escritor, actor e músico Afonso Dias

      Afonso Dias nasceu há 60 anos, em Lisboa, mas considera-se alentejano de coração. Veio viver para o Algarve em 1984. É um artista multifacetado, músico, cantor, escritor, poeta, contador de histórias, declamador, encenador e actor. Foi deputado à Assembleia Constituinte de 1974, pela UDP. Como músico, foi um dos fundadores, em 1974, do GAC – Grupo de Acção Cultural, com o qual efectuou inúmeras apresentações no país e no estrangeiro, assim como editou diversos discos. Ao longo da sua carreira integrou espectáculos com artistas como José Afonso e Sérgio Godinho, entre outros, tendo editado vários álbuns a solo. No âmbito do teatro, foi fundador, em 1999, da Trupe Barlaventina – Jograis do Algarve, com a qual realizou inúmeros espectáculos. Inicia em 2003, uma ligação de trabalho e cooperação com a ACTA (A Companhia de Teatro do Algarve) como encenador, actor, e cantor. Desde 2001, dinamiza nas escolas algarvias e de outras zonas do país, centenas de sessões de poesia.

Entre Vistas - Como é que se apaixonou pela poesia?
Afonso Dias – Tudo aconteceu muito cedo. Tanto quanto me lembro, ainda antes da entrada na escola Primária. A minha mãe gostava muito de cantar. Eu lembro-me de ser pequenito… e, ela me contar e cantar histórias. Julgo que tudo começou por aí... Na escola Primária, eu gostava muito dos poemas por causa da rima. A rima é uma espécie de música, ou música de facto. Julgo que foi muito cedo que me apaixonei pela poesia. Depois, comecei, mais a sério, a trabalhar com a poesia, por causa da música e do teatro, quando eu tinha catorze anos. A partir daí, foi sempre o construir de uma longa paixão.
Entre Vistas - Que poetas mais o influenciam?
Afonso Dias – Há uns quantos poetas que eu gosto especialmente. Não sei dizer bem, se me influenciam, ou não, na minha maneira de escrever poesia. Mas, eu gosto muito de poetas portugueses. Vou dizer-vos só uns quantos. Antes de mais, um poeta superior, Camões e depois, começando a viajar no tempo o Bocage, o Guerra Junqueiro, o Miguel Torga, a Sophia de Mello Breyner, o Alexandre O’Neill, o Eugénio de Andrade e para terminar a Natália Correia.
Entre Vistas - Que papel tem a música na sua vida?
Afonso Dias – A minha vida tem várias coisas com papéis principais, a minha família, os meus filhos, os meus netos… tenho alguns, os meus amigos, o meu trabalho. Tudo isto tem um papel principal. A música tem um grande papel na minha vida. Não consigo viver sem música.
Entre Vistas - É difícil viver de ser actor, em Portugal?
Afonso Dias – É difícil, mas creio que não é mais difícil do que noutros países. Há muitos actores que não conseguem ter trabalho regular. Por outro lado, os que conseguem ter trabalho regular, uns ganham muito mal, outros tem a felicidade de trabalhar em companhias que têm mais dinheiro e que lhes podem pagar melhor, outros têm acesso à televisão, vão a castings e depois são seleccionados e ganham melhor. É difícil… mas, se calhar é tão difícil como em qualquer outra profissão. É uma profissão instável.
Entre Vistas - Qual é a arte em que gosta mais de se exprimir?
Afonso Dias – Eu julgo que na poesia. Eu divido-me entre a poesia e a música. Mas, gosto muito das outras artes todas, da pintura, da escultura, do teatro, do cinema, da dança… eu acho que a poesia tem um papel igual nas artes todas. A poesia acaba por inspirar todas as outras expressões artísticas. Eu colocava a poesia em primeiro lugar.
Entre Vistas - Em Portugal, como é a vida de um artista?
Afonso Dias – É uma vida de trabalho. Quem trabalha nisto tem que se dedicar a isto, o tempo todo, como noutra profissão qualquer. Na minha área artística tem que se trabalhar muito, ou seja, tem que se ler muito, pesquisar muitas coisas, certos textos, certos autores, certas épocas, certas situações. No que diz respeito à música tem que se treinar muito. É um trabalho intenso como em quase todas as profissões.
Entre Vistas - Neste dia dedicado à poesia, que mensagem gostaria de transmitir aos jovens?
Afonso Dias – Aproveitem e descubram os segredos mágicos que a poesia tem… porque tem.

 
Afonso Dias ao Raio X

Entre Vistas - Um livro preferido?
Afonso Dias – É difícil escolher, mas vou destacar “A Montanha Mágica” de Thomas Mann.
Entre Vistas - Um autor ou uma autora preferido?
Afonso Dias – Sophia de Mello Breyner…poesia.
Entre Vistas - Canção favorita?
Afonso Dias – Isso é muito complicado, mas vou escolher “Era um Redondo Vocábulo” de Zeca Afonso.
Entre Vistas - O filme da sua vida?
Afonso Dias – Não tenho o “filme da minha vida”, mas posso destacar alguns. Vou destacar um mais antigo e um recente. O mais antigo é o “Shane”, um filme de cowboys, o mais recente é o “Mystic River”.
Entre Vistas - A cidade que mais gostou de visitar?
Afonso Dias – Praga, na República Checa.
Entre Vistas - A cidade que gostaria de visitar?
Afonso Dias – São Francisco, nos Estados Unidos.
Entre Vistas - Um dia especial?
Afonso Dias – O dia 25 de Abril de 1974
Entre Vistas - Maior virtude?
Afonso Dias – Ai isso eu não digo...
Entre Vistas - Maior defeito?
Afonso Dias – Teimoso. Sou muito teimoso.
Entre Vistas - Um desejo?
Afonso Dias – Que se cumprisse aquele preceito que diz que a falar é que a gente se entende. Porque se isso acontecesse, o mundo estava muito melhor do que está. Isso era o meu grande desejo, que nos entendêssemos só a falar. E que, vocês sejam muito, muito, muito felizes… bué…

Entrevista conduzida por Luís Cavaco, Mara Resende e Rodrigo Cardoso
Guião da entrevista - produção colectiva 6ºA (2009/10)

Sem comentários:

Enviar um comentário