quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Entrevista ao investigador José António de Jesus Martins


Entre Vistas - Quais eram as Brincadeiras preferidas das crianças e dos jovens portugueses na Idade Média?
José A. J. Martins - As brincadeiras das crianças e dos jovens portugueses da Idade Média eram iguais às dos outros meninos da Europa. Havia dois tipos de classes sociais, propriamente ditas, os meninos mais ricos e os meninos mais pobres. Os meninos mais ricos brincavam com melhores brinquedos, mais coloridos, por exemplo, os tambores que eram decorados, os fantoches que eram pintados. Os meninos mais pobres brincavam com brinquedos e utensílios mais pobres e em menor quantidade. Aqui, no Algarve, foi descoberto, acerca de sete anos, numa escavação arqueológica, no museu de Silves, miniaturas para rapazes e para raparigas. Os arqueólogos encontraram, para as meninas, panelas, bolos e bonecas em miniatura. É engraçado, porque algumas das bonecas encontradas tinham uma barriga muito saliente. Isto quer dizer, que era, desde logo, uma educação e um convívio para a maternidade, porque elas estavam destinadas a serem mães. Para os meninos, eram mais aqueles cavalinhos de madeira e as espadas de madeira ou de metal. Conforme as classes sociais, assim, havia os brinquedos… e depois, naturalmente, as brincadeiras. Não se misturavam os nobres com o povo para brincar. Mas, havia momentos, nas praias, nos rios, nas pontes, em que, muitas vezes, se encontravam… e então… brincavam todos juntos. Mas, havia uma distinção entre os meninos e as meninas, e os meninos ricos e os meninos pobres.
Entre Vistas - Na Idade Média, nas brincadeiras e nos brinquedos, havia muitas diferenças entre Portugal e a Europa?
José A. J. Martins - As diferenças não são muitas. As grandes diferenças começam a aparecer com os descobrimentos portugueses, nos séculos XV e XVI. Os portugueses iniciam a aventura dos descobrimentos com a conquista de Ceuta, em 1415, e terminam, no século XVI, no reinado de D. Sebastião, com a entrega, pela China, de Macau a Portugal. São assim, estabelecidos contactos com povos de África, da América e do Oriente. Do Oriente chegam muitas coisas novas. Quem traz as mercadorias, traz também muitos artefactos, muitos materiais e muitas inovações que são adaptadas a Portugal, às classes sociais. Por exemplo, o xadrez e os jogos de cartas são adaptados a novas brincadeiras e a novos jogos. Podemos dizer que, até aos descobrimentos, as crianças portuguesas tinham o mesmo tipo de brinquedos e brincadeiras que os outros meninos da Europa, porque havia contactos dentro da Europa. A grande novidade acontece com os descobrimentos portugueses, sobretudo quando, nós chegámos à Índia e a outros pontos do Oriente.
Entre Vistas - Que comparações se podem fazer entre as brincadeiras e os brinquedos da Idade Média e as brincadeiras e os brinquedos actuais?
José A. J. Martins – Brinquedos ou brincadeiras? Quem é que surge primeiro? Eu acho que foram as brincadeiras que nasceram primeiro… espontâneas. Depois, há a necessidade de se ter qualquer coisa, para nos entretermos e que seja propriedade nossa. Os brinquedos e as brincadeiras nascem, assim, da vontade de entreter as pessoas, para servirem o lazer, como complemento às festas, associadas ao campo, à religião e outras. Os brinquedos, que nós temos hoje, nada têm a ver com os brinquedos de há quinhentos anos atrás. Agora, temos a tecnologia de ponta. São consolas, são uma quantidade de jogos que hoje adquirimos. Estão sempre a aparecer coisas novas. Isso tem a ver com uma coisa, que não existia naquele tempo, que é o consumismo actual. Muitos brinquedos, que nós hoje conhecemo, têm origem no século XIV e no século XV. Aquilo que havia até ao inicio do século XX, num país ainda muito rural, muito conservador, eram brinquedos oriundos dos séculos XIV e XV. Eu vou dar-vos o meu próprio exemplo. Quando tinha oito, nove anos lembro-me de construir papagaios de papel. A sua construção era simples. Eu ia apanhar umas canas, secava-as, unia-as em cruz e atava-as com um cordel ou uma corda. Depois, comprava ou pedia papel de seda muito leve e colava-o às canas com cola de farinha. Punha um rabinho de pano ou papel mais pesado. Atava o papagaio a um cordel para poder correr pela praia ou pela rua. E, o papagaio levantava voo. Era muito bonito. Aquilo durava uma ou duas horas. Hoje, nós compramos os papagaios já feitos, em estruturas superleves de metal ou PVC, e aquilo dura muito mais tempo. Hoje, temos muitos brinquedos com mecanismos complexos ou electrónicos que não existiam naquela altura. Mas, os brinquedos que, ainda hoje, podemos encontrar em feiras de artesanato ou em lojas de artesãos, em madeira ou metal, têm uma origem muito antiga e vêm desses séculos.

José António de Jesus Martins ao Raio X

Entre Vistas – Um brinquedo preferido?
José A. J. Martins – O papagaio de papel, construído por mim.
Entre Vistas – Local preferido para passar férias?
José A. J. Martins - Na Florida, no Cabo Canaveral.
Entre Vistas – Música preferida?
José A. J. Martins - Gosto de música clássica. A música clássica dá-me muita paz de espírito.
Entre Vistas – Livro que mais gostou de ler?
José A. J. Martins - Gostei de ler muitos livros. Há um, que eu gosto sempre de rever e que tem a ver com as ilustrações na Idade Média. É um livro que eu comprei nos Estados Unidos e que eu não encontro à venda aqui na Europa.
Entre Vistas – O filme da sua vida?
José A. J. Martins - “O Caçador”, com o Roberto de Niro. Tenho a “Colecção de Ouro” do Roberto de Niro.
Entre Vistas - Um dia especial?
José A. J. Martins - O nascimento da minha filha, dia 24 de Setembro.
Entre Vistas – Maior Virtude?
José A. J. Martins - A nossa maior virtude, e não falo por mim, tem que ser a humildade. Saber, de facto, aceitar os momentos menos bons da vida. E, regozijar e sentir-se bem com os momentos mais importantes da vida.
Entre Vistas – Maior defeito?
José A. J. Martins - O perfeccionismo. Gosto, sempre, de fazer as coisas o melhor possível, mesmo quando não é possível.
Entre Vistas – O que mais detesta?
José A. J. Martins - Falta de tempo. Trabalho das 8.30 até à meia-noite. Agora, também, sou professor numa escola. Saio de casa, às 8.10 e regresso a casa, à meia-noite e dez.
Entre Vistas – O que mais lhe dá prazer?
José A. J. Martins - Não ter nada que fazer.
Entre Vistas – Um desejo?
José A. J. Martins – Saúde… o mais importante.
Entrevista conduzida por Joana Fontoura e Tiago Jesus
Guião da entrevista - produção colectiva 6ºA (2009/10)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Entrevista ao artista plástico António Bota Filipe

António Bota Filipe nasceu há 78 anos e é um Coronel do exército na reforma. Nos anos oitenta, decidiu dedicar-se ao estudo das artes plásticas e da arquitectura. Em Abril de 1993, juntamente com a esposa, num terreno de três hectares que pertencia à sua avó Josefa, iniciou a construção do ZEFA - a Cidade da Arte, o maior centro de arte contemporânea privado em Portugal, no Sítio das Pereiras, em Almancil, constituído por vários edifícios e onde se pode ver artes plásticas, arquitectura, urbanismo e ambiente, tudo no mesmo espaço. É um local privado, mas ao mesmo tempo público, pois qualquer pessoa pode visitar o ZEFA. Totalmente financiado pelo casal, o centro ZEFA não teve qualquer apoio do Estado, nem qualquer apoio de mecenato privado. É neste espaço que António Bota Filipe expõe as suas criações artísticas.


Entre Vistas - Como é que nasceu a ideia da criação e construção deste parque?
António Bota Filipe - Por influência de um professor que eu tive de Matemática, Cálculo Comercial e Físico-químicas. Em todas as aulas, ele dedicava um quarto de hora à cultura. Isso marcou-me muito… eu gostaria também de poder marcar os outros. A arte é tão emocionante que vale a pena trabalhar, neste centro, para permitir que os alunos venham aqui completar os conhecimentos que adquiriram na escola. Esse professor apanhei-o no instituto comercial, na escola Tomás Cabreira.
Entre Vistas - Como define o ZEFA?
António Bota Filipe - Uma cidade contemporânea para exemplo das escolas. Este centro chama-se ZEFA em homenagem à minha avó que era a dona destes terrenos. Ela chamava-se Gertudes Josefa e daí vem o nome deste centro ZEFA.
Entre Vistas - Qual foi o percurso de vida do ZEFA?
António Bota Filipe - As primeiras obras começaram em Fevereiro de 1993. Comigo, como servente de pedreiro, e dois pedreiros fizemos esta obra. Com excepção da última peça, porque eu parti uma mão.
Entre Vistas - Considera que este Parque está concluído?
António Bota Filipe - Este parque não está concluído porque faltam os alunos e as escolas interessarem-se por isto. Ele só se completa quando as escolas cá vierem. Em termos de arquitectura e de espaços ele está concluído. Ele foi construído para usufruto dos alunos. Eu não estou muito interessado no turismo.
Entre Vistas - Quais são os projectos futuros para o ZEFA?
António Bota Filipe - Em Julho, fazer uma grande exposição e só convidar as escolas.
Entre Vistas - Qual é o sonho que gostaria de realizar mas ainda não teve oportunidade de concretizar?
António Bota Filipe - Era ter a capacidade física e material para poder, todos os dias, ter a visita guiada de uma escola.
Entre Vistas - Se pudesse recuar uns anos, o que mudaria na sua vida?
António Bota Filipe - Eu não mudava nada na minha vida. Estou satisfeito com a vida que tive. Talvez acabar mais cedo a minha vida. Acho que depois de uma certa idade a vida é chata.
Entre Vistas - Através do nosso Blogue que mensagem gostaria de enviar aos jovens portugueses?
António Bota Filipe - Gostaria de lhes dizer para que não sejam conservadores… sejam diferentes uns dos outros, para que o social evolua.

António Bota Filipe ao Raio X

Entre Vistas - Desporto preferido?
António Bota Filipe - Windsurf.
Entre Vistas - Local preferido para passar férias?
António Bota Filipe - Praia do Barril.
Entre Vistas - Cidade portuguesa preferida?
António Bota Filipe - Lisboa.
Entre Vistas - País que mais gostou de visitar?
António Bota Filipe - Estados Unidos da América… sobretudo Nova Iorque.
Entre Vistas - Prato de comida favorito?
António Bota Filipe - Açorda com peixe assado ou com sardinhas.
Entre Vistas - Estação do ano preferida?
António Bota Filipe - Primavera/Verão.
Entre Vistas - Animal de estimação?
António Bota Filipe - O cão.
Entre Vistas - Música preferida?
António Bota Filipe - “A Estrela da Tarde” do Carlos do Carmo… tenho uma história com essa estrela da tarde.
Entre Vistas - Livro que mais gostou de ler?
António Bota Filipe - “Como conseguir amigos” .
Entre Vistas- Artista plástico favorito?
António Bota Filipe - Júlio Pomar e Cabrita Reis.
Entre Vistas - Cor preferida?
António Bota Filipe - O Arco-Íris.
Entre Vistas - Maior virtude?
António Bota Filipe - Ser solidário.
Entre Vistas - Maior defeito
António Bota Filipe ? A teimosia.
Entre Vistas - O que mais detesta?
António Bota Filipe - A estupidez… o ser conservador.
Entre Vistas - O que mais lhe dá prazer?
António Bota Filipe - Ir à praia passear… estar em contacto com o mar. Eu gosto mais do mar do que do  campo. Quando o mar está bravo é fantástico. O mar traz-me outras sensações… o movimento, as ondas e a espuma… tudo aquilo envolve as pessoas. Começo logo a pensar nos barcos que andaram por aí a fora e a criar um mundo no meu imaginário.

Entrevista conduzida por Larisa Sas e Daniel Pereira
Guião da entrevista - produção colectiva 6ºA (2009/10)